Uma câmera na mão 24 horas por dia e uma vontade de fotografar tudo.
Resultado: milhares de fotos guardadas.
E vejo as fotos depois?
Quase nunca.
A maioria cai num limbo e ali fica para o resto da vida.
O limbo é o Google Photos.
É lá que todas as imagens que eu tiro com o celular vão parar.
O upload é automático.
Enquanto armazena minhas fotos, o Google aprende sobre mim.
Conhece meus gostos, com quem convivo, por onde andei.
O Grande Irmão sabe tudo sobre nós.
Em troca, tenho armazenamento e serviço de busca.
Quando raramente preciso achar algo específico, digito no próprio Google Photos.
“Flores”.
Aí aparecem referências de flores que eu já fotografei.
Fiz isso ontem, aliás.
Estava em busca de uma foto para a aula de aquarela desta manhã.
Achei esta:
E pintei essa cena:
As fotos são úteis para a pintura.
Quando comecei a estudar aquarela, tudo o que encontrava pela rua era referência para pintar.
Velhinho sentado, árvore, carro antigo, estrada, vaca, cachorro, bicicleta, homem carregando um tanque de lavar roupa atravessando a rua Augusta.
Click! Click! Click!
Foi aí que eu virei um acumulador de fotos.
Um dia pensei: vou levar uns 700 anos para pintar isso tudo.
Melhor desacelerar.
Feito.
Ainda tiro fotos, tudo bem, mas menos.
Hoje fico olhando longamente para uma cena real que antes eu registraria com o celular.
É como se a cena fosse a própria foto.
É um exercício de prestar atenção.
De estar presente.
E quando eu saio com o celular desligado, aí é que não tenho outra escolha senão apreciar.
Foi a partir dessa reflexão que surgiu a ideia do Click Plock, meu primeiro livro infantil.
O livro é o marco desta virada.
O início de uma busca por mais equilíbrio.
Uma busca por viver o instante em vez de guardá-lo para ver no futuro quando o presente se tornar passado.
Caetano Cury